PSICOTERAPIA INFANTIL

A brincar a brincar falamos de coisas sérias.

O brincar é o idioma das crianças.

Crianças brincando em um parque com escorregador, balanço, e caixa de areia, cercadas de árvores e céu com sol e nuvens.
Ilustração de balões de ar quente de diferentes cores e tamanhos no céu com nuvens e estrelas.

Era uma vez…

Foi no contexto da clínica infantil, ao se permitir também ser ensinada pelas crianças, que aprendeu outras formas de brincar – Princípio da Sabedoria. A “menina da rua” agora brincava dentro de quatro paredes, no acolhimento de um espaço protegido, e num “brincar com” que lhe permitia transformar-se em vários personagens: mãe, pai, monstros, cabeleireira, aviões, polícia, médica, bruxas, índios…

E, num dia como tantos outros de trabalho, ao entrar em uma escola, crianças se aproximam e a rodeiam com seus abraços e sorrisos. Ouve-se ao fundo, em tom alto, a nomeação: “É a Dra. Brinquedos”. E, assim, subitamente, algo internamente se transformou: sua presença representava um tipo de cuidado. Diferente dos médicos, ela não tinha estetoscópio, termômetro, nem bata branca. Seu “instrumento” eram os “brinquedos” e o brincar. A percepção subjetiva de um brincar sem jeito, rapidamente foi se ajeitando: afinal, ela poderia vir a se tornar (e se tornou) uma psicoterapeuta de crianças.

Sol sorridente, nuvem fofinha e arco-íris com cores suaves.

O BRINCAR É UMA COISA SÉRIA E

PERMITE-NOS…

Excomungar o mal de dentro de nós - medos e monstros que aterrorizam o dia-a-dia, o sono e a fantasia das crianças.

Representar e elaborar simbolicamente as “idas e voltas” dos objetos securizantes e vinculativos – o jogo da presença e ausência.

Expressar os impulsos agressivos, de modo estruturante e integrante da institualidade que faz parte da natureza humana.

… e permite-nos sonhar com o futuro, brincando de “faz-de-conta”.

Quatro crianças sorridentes brincando na grama ao lado de uma árvore com folhas rosa, sob um céu com sol sorridente e algumas nuvens.
Criança brincando com blocos de montar em um cômodo de interior decorado com tema de árvore e céu, com nuvens, estrelas e luas na parede, e uma grande poltrona rosa ao lado de um ursinho de pelúcia.
Ilustração de um quarto infantil com uma criança brincando com blocos coloridos no chão, ao lado de um ursinho de pelúcia, uma mesa com caderno e lápis, uma janela com cortina e uma árvore decorativa na parede com estrelas, luas e nuvens penduradas.

COMO FUNCIONA?

O papel dos pais

Na psicoterapia infantil, o setting terapêutico é ampliado, indo além da tradicional díade terapeuta-paciente. A tríade composta por criança, terapeuta e pais é um pilar central do processo. Isso porque a criança não está isolada em sua experiência psíquica — ela está inserida em um contexto relacional, familiar e social que influencia e, muitas vezes, sustenta sua forma de estar no mundo.

Os pais ocupam, assim, uma função ambígua, mas necessária: são ao mesmo tempo participantes e observadores. Desde a anamnese até os retornos periódicos, a sua escuta, o acolhimento de suas angústias e a orientação sobre os limites e possibilidades do tratamento são fundamentais para garantir a continuidade e eficácia do processo terapêutico. Ao mesmo tempo, é necessário preservar o espaço da criança, como sujeito em desenvolvimento, que precisa encontrar na psicoterapia um lugar próprio de expressão, livre de julgamentos e expectativas externas.

A linguagem da criança: o brincar como fala

Na clínica infantil, o brincar não é "apenas" brincar: é linguagem. É através do faz-de-conta, do desenho, das construções simbólicas que emerge as narrativas espontâneas sobre o que a criança sente, pensa e vive.

O papel do terapeuta é o de um intérprete sensível, que se aproxima desse universo simbólico sem invadir, mas estando disponível, com atenção flutuante e escuta empática. Por vezes, tem uma postura mais ativa, sendo convocado pela criança para um “brincar a dois”.

Muitas crianças chegam com uma fala abundante - "falam pelos cotovelos", enquanto outras se comunicam pelo silêncio, pelo corpo, pelo olhar. O tempo psíquico da criança precisa ser respeitado. O terapeuta, nesse sentido, oferece não apenas a técnica, mas sobretudo presença — uma presença que sustenta, acolhe e valida o que ainda não pode ser plenamente dito.

A psicoterapia infantil é, antes de tudo, um espaço de construção de vínculos. Um espaço onde a criança pode, aos poucos, elaborar seu sofrimento, nomear suas emoções e experimentar novas formas de ser e de estar no mundo.

Suspeitas ou diagnóstico de Perturbações do Neurodesenvolvimento: As Perturbações do Neurodesenvolvimento (PND) referem-se a alterações neurobiológicas que comprometem o desenvolvimento normativo da criança. Afetam diversas áreas, como a cognição, a comunicação, a linguagem, a motricidade, a atenção, a memória, a socialização, o comportamento, a aprendizagem escolar e a autonomia, entre outras.

As alterações podem estar presentes desde o nascimento ou surgir em fases posteriores, e têm um impacto significativo nas áreas do funcionamento pessoal, social, académico e ocupacional, condicionando o desenvolvimento e a adaptação da criança a diferentes contextos.

Entre as mais comuns, destacam-se: a Perturbação do Desenvolvimento Intelectual, a Perturbação do Espectro do Autismo, a Perturbação da Linguagem, a Perturbação de Défice de Atenção e Hiperatividade, e as Perturbações Específicas da Aprendizagem, como dificuldades em leitura, escrita e matemática.

Sentimentos de tristeza, medos e ansiedade: Quando uma criança apresenta sinais persistentes de tristeza, medos excessivos (como medo de escuro, bruxas, monstros, de separação ou de situações específicas, outros), e ansiedade generalizada podem indicar uma predisposição para perturbações emocionais como a ansiedade ou depressão infantil.

Comportamentos desafiantes: Os comportamentos como birras, agressividade, gritos e dificuldades em controlar ações ou impulsividade. Muitas vezes, esses comportamentos ocorrem durante o desenvolvimento infantil, principalmente em idades mais precoces, mas também podem persistir ou emergir em idades mais avançadas. Quando esses comportamentos começam a prejudicar o bem-estar da criança ou preocupam os pais pela intensidade e frequência, pode ser necessário recorrer a um profissional qualificado.

Dificuldades académicas e sociais: Dificuldades de atenção/concentração; Desmotivação/desinteresse escolar; Dificuldades de aprendizagem; Ansiedade associada ao desempenho.

Quais os principais motivos para os pais procurarem ajuda psicológica para os filhos?

Quando esses sinais são persistentes e afetam significativamente o bem-estar da criança e a dinâmica familiar, é fundamental identificar as possíveis causas subjacentes e buscar o apoio adequado e especializado.

Dificuldades relacionais: O isolamento social frequente e a experiência de bullying são questões que afetam profundamente o desenvolvimento emocional e social de uma criança. Quando uma criança enfrenta dificuldades em estabelecer conexões saudáveis com seus pares, sente-se constantemente excluída ou é alvo de agressões verbais, emocionais ou físicas, os efeitos podem ser devastadores. Esses desafios podem gerar sentimentos de inadequação, baixa autoestima, e uma sensação de alienação que prejudica sua capacidade de desenvolver relações interpessoais saudáveis ao longo da vida.

Baixa autoestima e auto-confiança: A falta de confiança em si mesma e nas suas capacidades e/ou a presença de sentimentos de inferioridade em relação aos outros.

Mudanças significativas na vida: Alterações como mudanças de país, de casa, de escola ou a separação dos pais podem ser momentos de grande stress para a criança.

Luto e situações de perda: A perda de um ente querido ou o confronto com eventos difíceis pode gerar sentimentos profundos de dor, confusão, tristeza, raiva ou comportamento regressivo.

Alterações do sono: Dificuldades para adormecer, acordar frequentemente durante a noite ou ter pesadelos recorrentes podem indicar questões emocionais subjacentes que deverão ser investigadas.

Perturbações de eliminação (Enurese ou Encoprese): A enurese e a encoprese são condições que envolvem a perda involuntária de urina e fezes, respetivamente, podendo ocorrer durante o dia ou à noite. Estas situações podem causar grande desconforto e sentimentos de vergonha na criança, afetando o seu bem-estar emocional.

Problemas alimentares: Os problemas alimentares em crianças são questões preocupantes que podem afetar o seu desenvolvimento físico e emocional. Estes problemas incluem desde a recusa em comer, dificuldades em manter uma alimentação equilibrada, até comportamentos como a compulsão alimentar ou restrições excessivas a determinados alimentos ou grupos alimentares. Fatores como pressões sociais, influências familiares, questões emocionais ou até condições médicas podem contribuir para o surgimento dessas perturbações. Caso não sejam tratadas adequadamente, os problemas alimentares podem levar a deficiências nutricionais, com impacto no crescimento e no desempenho escolar, além de outras potenciais complicações ao nível da auto-estima e da imagem corporal.

Diversas crianças felizes brincando ao ar livre entre duas árvores sob o Sol.