PSICOTERAPIA INFANTIL
A brincar a brincar falamos de coisas sérias.
O brincar é o idioma das crianças.
Era uma vez…
Foi no contexto da clínica infantil, ao se permitir também ser ensinada pelas crianças, que aprendeu outras formas de brincar – Princípio da Sabedoria. A “menina da rua” agora brincava dentro de quatro paredes, no acolhimento de um espaço protegido, e num “brincar com” que lhe permitia transformar-se em vários personagens: mãe, pai, monstros, cabeleireira, aviões, polícia, médica, bruxas, índios…
E, num dia como tantos outros de trabalho, ao entrar em uma escola, crianças se aproximam e a rodeiam com seus abraços e sorrisos. Ouve-se ao fundo, em tom alto, a nomeação: “É a Dra. Brinquedos”. E, assim, subitamente, algo internamente se transformou: sua presença representava um tipo de cuidado. Diferente dos médicos, ela não tinha estetoscópio, termômetro, nem bata branca. Seu “instrumento” eram os “brinquedos” e o brincar. A percepção subjetiva de um brincar sem jeito, rapidamente foi se ajeitando: afinal, ela poderia vir a se tornar (e se tornou) uma psicoterapeuta de crianças.
O BRINCAR É UMA COISA SÉRIA E
PERMITE-NOS…
Excomungar o mal de dentro de nós - medos e monstros que aterrorizam o dia-a-dia, o sono e a fantasia das crianças.
Representar e elaborar simbolicamente as “idas e voltas” dos objetos securizantes e vinculativos – o jogo da presença e ausência.
Expressar os impulsos agressivos, de modo estruturante e integrante da institualidade que faz parte da natureza humana.
… e permite-nos sonhar com o futuro, brincando de “faz-de-conta”.
COMO FUNCIONA?
O papel dos pais
Na psicoterapia infantil, o setting terapêutico é ampliado, indo além da tradicional díade terapeuta-paciente. A tríade composta por criança, terapeuta e pais é um pilar central do processo. Isso porque a criança não está isolada em sua experiência psíquica — ela está inserida em um contexto relacional, familiar e social que influencia e, muitas vezes, sustenta sua forma de estar no mundo.
Os pais ocupam, assim, uma função ambígua, mas necessária: são ao mesmo tempo participantes e observadores. Desde a anamnese até os retornos periódicos, a sua escuta, o acolhimento de suas angústias e a orientação sobre os limites e possibilidades do tratamento são fundamentais para garantir a continuidade e eficácia do processo terapêutico. Ao mesmo tempo, é necessário preservar o espaço da criança, como sujeito em desenvolvimento, que precisa encontrar na psicoterapia um lugar próprio de expressão, livre de julgamentos e expectativas externas.
A linguagem da criança: o brincar como fala
Na clínica infantil, o brincar não é "apenas" brincar: é linguagem. É através do faz-de-conta, do desenho, das construções simbólicas que emerge as narrativas espontâneas sobre o que a criança sente, pensa e vive.
O papel do terapeuta é o de um intérprete sensível, que se aproxima desse universo simbólico sem invadir, mas estando disponível, com atenção flutuante e escuta empática. Por vezes, tem uma postura mais ativa, sendo convocado pela criança para um “brincar a dois”.
Muitas crianças chegam com uma fala abundante - "falam pelos cotovelos", enquanto outras se comunicam pelo silêncio, pelo corpo, pelo olhar. O tempo psíquico da criança precisa ser respeitado. O terapeuta, nesse sentido, oferece não apenas a técnica, mas sobretudo presença — uma presença que sustenta, acolhe e valida o que ainda não pode ser plenamente dito.
A psicoterapia infantil é, antes de tudo, um espaço de construção de vínculos. Um espaço onde a criança pode, aos poucos, elaborar seu sofrimento, nomear suas emoções e experimentar novas formas de ser e de estar no mundo.

Suspeitas ou diagnóstico de Perturbações do Neurodesenvolvimento: As Perturbações do Neurodesenvolvimento (PND) referem-se a alterações neurobiológicas que comprometem o desenvolvimento normativo da criança. Afetam diversas áreas, como a cognição, a comunicação, a linguagem, a motricidade, a atenção, a memória, a socialização, o comportamento, a aprendizagem escolar e a autonomia, entre outras.
As alterações podem estar presentes desde o nascimento ou surgir em fases posteriores, e têm um impacto significativo nas áreas do funcionamento pessoal, social, académico e ocupacional, condicionando o desenvolvimento e a adaptação da criança a diferentes contextos.
Entre as mais comuns, destacam-se: a Perturbação do Desenvolvimento Intelectual, a Perturbação do Espectro do Autismo, a Perturbação da Linguagem, a Perturbação de Défice de Atenção e Hiperatividade, e as Perturbações Específicas da Aprendizagem, como dificuldades em leitura, escrita e matemática.
Sentimentos de tristeza, medos e ansiedade: Quando uma criança apresenta sinais persistentes de tristeza, medos excessivos (como medo de escuro, bruxas, monstros, de separação ou de situações específicas, outros), e ansiedade generalizada podem indicar uma predisposição para perturbações emocionais como a ansiedade ou depressão infantil.
Comportamentos desafiantes: Os comportamentos como birras, agressividade, gritos e dificuldades em controlar ações ou impulsividade. Muitas vezes, esses comportamentos ocorrem durante o desenvolvimento infantil, principalmente em idades mais precoces, mas também podem persistir ou emergir em idades mais avançadas. Quando esses comportamentos começam a prejudicar o bem-estar da criança ou preocupam os pais pela intensidade e frequência, pode ser necessário recorrer a um profissional qualificado.
Dificuldades académicas e sociais: Dificuldades de atenção/concentração; Desmotivação/desinteresse escolar; Dificuldades de aprendizagem; Ansiedade associada ao desempenho.
Quais os principais motivos para os pais procurarem ajuda psicológica para os filhos?
Quando esses sinais são persistentes e afetam significativamente o bem-estar da criança e a dinâmica familiar, é fundamental identificar as possíveis causas subjacentes e buscar o apoio adequado e especializado.
Dificuldades relacionais: O isolamento social frequente e a experiência de bullying são questões que afetam profundamente o desenvolvimento emocional e social de uma criança. Quando uma criança enfrenta dificuldades em estabelecer conexões saudáveis com seus pares, sente-se constantemente excluída ou é alvo de agressões verbais, emocionais ou físicas, os efeitos podem ser devastadores. Esses desafios podem gerar sentimentos de inadequação, baixa autoestima, e uma sensação de alienação que prejudica sua capacidade de desenvolver relações interpessoais saudáveis ao longo da vida.
Baixa autoestima e auto-confiança: A falta de confiança em si mesma e nas suas capacidades e/ou a presença de sentimentos de inferioridade em relação aos outros.
Mudanças significativas na vida: Alterações como mudanças de país, de casa, de escola ou a separação dos pais podem ser momentos de grande stress para a criança.
Luto e situações de perda: A perda de um ente querido ou o confronto com eventos difíceis pode gerar sentimentos profundos de dor, confusão, tristeza, raiva ou comportamento regressivo.
Alterações do sono: Dificuldades para adormecer, acordar frequentemente durante a noite ou ter pesadelos recorrentes podem indicar questões emocionais subjacentes que deverão ser investigadas.
Perturbações de eliminação (Enurese ou Encoprese): A enurese e a encoprese são condições que envolvem a perda involuntária de urina e fezes, respetivamente, podendo ocorrer durante o dia ou à noite. Estas situações podem causar grande desconforto e sentimentos de vergonha na criança, afetando o seu bem-estar emocional.
Problemas alimentares: Os problemas alimentares em crianças são questões preocupantes que podem afetar o seu desenvolvimento físico e emocional. Estes problemas incluem desde a recusa em comer, dificuldades em manter uma alimentação equilibrada, até comportamentos como a compulsão alimentar ou restrições excessivas a determinados alimentos ou grupos alimentares. Fatores como pressões sociais, influências familiares, questões emocionais ou até condições médicas podem contribuir para o surgimento dessas perturbações. Caso não sejam tratadas adequadamente, os problemas alimentares podem levar a deficiências nutricionais, com impacto no crescimento e no desempenho escolar, além de outras potenciais complicações ao nível da auto-estima e da imagem corporal.